Rancho de Canoa
Canoa no mar a pescar
Rancho de canoa a espreitar
Fugidia canoa e mar
Sarau pra Quintana
Mal desce o sol em descanso,
aquietando as coisas do dia,
Lá vêm as coisas da noite,
fazendo sarau em cantoria.
Primeiro apresentam-se os sapos,
coaxando em todas as vozes.
Logo vêm os grilos,
grilando em estridentes doses.
Também cantam as corujas,
piando alto, as vezes piando baixinho.
Os quero-queros também cantam,
assustando quem ameaça os ninhos.
Às vezes também ouço
Uns cantos feios e loucos
- Fantasmas, monstros, não sei! -
Que são de arrepiar o pescoço.
E vão se repetindo,
Estas e outras vozes,
Até que tudo cansa,
E só ouço os anjinhos,
Todos arrumadinhos,
Todos em linhas,
Cada um com sua voz,
E cada qual com seus versos.
Mas um, muito especial,
Dentuça e asas tortas,
O quinto da quinta linha,
Canta de modo raro,
Belo e compenetrado,
De sua própria autoria,
Uma infantil elegia,
Que não canso de ouvir
E toda noite ouviria.
João Marino